" (...)O cão espera-a efusivamente mal abre a porta do seu duplex. Ela agarra-o no colo fazendo-lhe festas. Repete várias vezes o seu nome. O que ela sente pelo seu cão não deve ser a mesma coisa que o cão sente por ela. Com as pessoas também é assim."
(...) "as palavras quando imobilizadas perdem todo o sentido. Como quando são inúmeras vezes repetidas. Tornam-se ocas. Soube disto claramente quando disse à Aysha que a amava. Amo-te, disse ela naquela primeira de todas as noites. Fez-se um enorme silenciio à volta daquela palavra. repetia a palavra e voltava a repetir como se não alcançasse o que queria."
(...) "não sabe decidir se foi feliz ou infeliz em criança. Sabe que é um enorme privilégio poder considerar-se feliz ou infeliz".
Rosa vermelha em quarto escuro - Pedro Paixão
"Como sabes eu vivo de relâmpagos; contigo partilhei uma trovoada um pouco mais longa do que o habitual. Foi apenas isso. De qualquer modo, a morte espreita sobre todos os prazeres dessa cronologia a que nos agarramos para escapar ao tempo. O que somos para além do que vamos sendo? O meu além eras tu- íman da minha íntima, impessoal temporalidade. Redenção dos males que me amputaram. Tu. (...) Feliz por estar ao teu lado outra vez. Ao lado dessa que já estava morta um bom par de anos antes de tu morreres. Fazes-me falta. Mas a vida não é mais do que uma sucessão de faltas que nos animam. A tua morte alivia-me do medo de morrer. Contigo fora de jogo, diminui o interesse da parada. E se tu morreste, também eu serei capaz de morrer, sem que as ondas nem o céu nem o silêncio se transtornem. Cair em ti, cada vez mais longe da mísera ficção de mim.(…)Prefiro esquecer, esquecer-te até se preciso for, para viver como tu vivias, apreciando cada momento - sobretudo os dolorosos, pela lucidez que trazem como bónus - desta tão precária maravilha a que chamamos existência. Tantas vezes te aconselhei as virtudes do silêncio. Queria calar-te para te proteger, sim. Há poucas pessoas apetrechadas para a verdade - mesmo nós, quantas vezes não fechámos à chave umas verdadezitas mais cortabtes para não nos magoarmos? Creio que me fazes - schiuuu! - assim, com uma vagar de embalo, sempre que a voz da minha consciência ( seja lá isso o que for) sobe o tom para me acusar pelo que não te dei. Creio sem crer, como um condenado. Afinal de contas, não tenho nada a perder. Mesmo que os anjos não existam, as asas com que te vejo, sentada na beira da minha cama, do cume enlouquecendo da minha insónia, ficam-te melhor do que todas as toilettes. Esforço a imaginação, estendo-a até aos teus dedos, mas não consigo mais do que um ligeiro raçagar de asas. São lençóis que agito, bem sei - mas não me concederás a graça de transformar a fímbria do meu lençol na ponta dos teus dedos?" Fazes-me Falta, Inês Pedrosa
ResponderEliminarJoelho
ResponderEliminarPonho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.
Maria Teresa Horta
PS-Poeta preferida de uma colega, colega essa por quem tenho uma infinita admiração. Beijos Sílvia, sabes que gosto muito de ti.
nunca o achei um bom professor, mas sempre achei que ele diz coisas muito boas: "as palavras quando imobilizadas perdem todo o sentido. Como quando são inúmeras vezes repetidas."
ResponderEliminarum beijinho ;)
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
ResponderEliminarClarice Lispector