quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

elas entraram

Elas entraram no autocarro. Uma tinha cabelo curto, entre as outras duas. O tom interessado da de olhos verdes, com largas pestanas encurraladas entre as duas maçãs bem rosadas, salpicadas de um tom que fugia ao da pele, despertou-me a atenção.

Eram para aí 12:30, apontava o meu relógio que daí a pouco ia parar. Despertou-me a atenção, não a forma como falava mas do que falava.

A conversa girava à volta de um terceiro, ela insistia com as outras duas numa "falta" que esse outro teve com ela. Seria grave? Não sei.

Despertou-me a atenção, o facto que se repete vezes sem conta. Há sempre alguém que é um terceiro para quem fala.

Olhei novamente para o relógio e tive a sensação que o ponteiro não deveria estar já ali...

O assunto do qual falava não me prendeu ao ponto de o conseguir descrever, prendi-me "apenas" ao facto de ela estar a falar de outrem. Essa necessidade...

Este terceiro (o dela) fez-me reflectir um problema: - não seria ela agora um terceiro para mim?

Há sempre alguém que fala de um terceiro...

12.40

O relógio está quase a parar. Voltei a reflectir, já não a ouvia, já não me prendia. Essa necessidade...

O que me despertou a atenção? Há sempre alguém que fala de um terceiro.

12:44

O relógio vai parar. Tentei reflectir novamente sobre o problema, que agora me parecia muito mais confuso, parecia não haver tempo para mais. Mas o problema continuava, essa necessidade...

Há sempre alguém que é um terceiro.

Um minuto depois parou mesmo e eu tive de sair. Já não me importava com aqueles olhos verdes, de pestanas encurraladas entre as duas maçãs bem rosadas, salpicadas suavemente de um tom que fugia ao da pele.

Despertou-me a atenção!

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