quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

morte cultural

Sabendo do cliché habitual " não leio jornais porque só falam de desgraças" resolvi desta vez ser cidadão, e aceder a esse mesmo cliché.

Entre a crise, o politicamente correcto em forma de tolerância, o meu "eu" – self em português, resolveu desabafar.

Cá vai: sinto-me confuso em relação aos que, entre um cristianismo salvador e um Cristo que tarda a chegar, se ajoelham por diferentes razões sobre um mesmo propósito.

Confunde-me ainda os que preferem que o meio da balança, caso haja balança, penda para um dos lados consoante o grau de desespero.

Nestas confusões existem ainda aqueles a quem apelidaram de "povos" de diferentes etnias, com diferenças culturais em forma de minoria ou maioria caso sejam muitos, e ao mesmo tempo tenham que se apelidar uns aos outros como tal.

Típico do nosso século as diferenças culturais erguem-se como se tivéssemos descoberto a pólvora. Uns são assertivos no que concerne ao avanço tecnológico, outros preferem o não recenseamento como forma de luta, etc.

A razão que me fez sentar ao ecrã do meu "pc" foi a seguinte:

- A noticia do "correio da manhã", que informava o leitor acerca de um episódio com uma mulher, numa parte qualquer do globo, que ao ter sido descoberta grávida de 5 meses, lhe foi retirada a "criança"( seja lá como lhe chamam os defensores do "sim"!!!!!!), e por essa mesma acção corre perigo de vida.

Ora a confusão assola-me de novo, e desta forma resolvi escrever na esperança que as novas ciências sociais e humanas me elucidem.

1. Peço ajuda à estatística uma vez que eles poderão elucidar-me se de facto o ocorrido é um número relevante ou não.

2. Peço ajuda à antropologia e à sociologia no sentido global do termo "o que é o Homem", bem como o que é o Humano numa relação com a sociedade e ao mesmo tempo com a sua singularidade, perguntando se o problema ocorrido é problema da sociedade em que a mulher está inserida.

3. Peço ajuda à psicologia uma vez que sendo os " mecânicos da alma" (isto se ela existir nas formas mais singulares estudadas), me poderão explicar os porquês (do passado) desta acção criminosa.

4. Peço ajuda às ciências da educação, uma vez que a formação do indivíduo define quase toda a sua identidade futura, bem como a relação parental (esperem a relação parental também faz parte da psicologia, da sociologia e da antropologia).

5. Peço ajuda ao direito pela noção de " direitos Humanos", e neste caso apelo aos EUA um melhor esclarecimento, mas desta feita qualitativo.

6. Peço ajuda aos políticos em forma de legislação argumentativa e não em forma de falácias informais.

7. Peço ajuda aos teóricos dos valores e da ética perguntando se as diferenças culturais e o relativismo cultural pressupõem esta acção.

8. Peço ajuda aos capitalistas para que possam ajudar-me a financiar as minhas perguntas

9. Peço ajuda aos críticos, não vá eu apenas estar sobre uma disposição efémera que me esteja a afectar o desvelamento das minhas questões, sem perceber a tecnicidade inerente as próprias questões.

10. Peço ajuda à genética, pois assim a acção supracitada, seria fisicamente "desculpável"[i], apesar de ser crime – será crime, ou diferença cultural? Mas as diferenças culturais permitem o crime, ou há uma suspeita universal de que "isso" é errado apesar das diferenças discriminadas?

11. Peço novamente ajuda à psicologia, pois se os apelidei de "mecânicos" é porque podem concertar algo, caso haja alguma coisa a consertar. Mas a confusão assola-me de novo pois a psicologia também sofre do mesmo cliché que eu; ela escreve, dita, arranja, conserta, ajuda só os casos maus, casos onde algo se apresenta com defeito, e nunca para coisas boas, ou seja, funciona mais ou menos como o destino, ao mesmo tempo identificando o Humano com o inconsciente que nos corrói por dentro e por fora, ou por um stress qualquer traumático.

12. Peço ajuda à Maya, entenda-se que precisamos de uma previsão, não meteorológica, mas existencial algo que construa o futuro, ou seja para a frente, sem antecedentes traumáticos, e isenta de mecânicos, ou seja completamente arbitrária, mas sem consequências, com base nas casas científicas do zodíaco.

13. Só não peço ajuda à filosofia pois ela está em vias de extinção e trata de coisas muito antigas: este é um problema dos nossos dias! À filosofia não se pede ajuda, pois todos filosofamos, somos um pouco filósofos do senso comum e todos sabemos o que é a filosofia, por isso ela nada acrescenta, como tenho ouvido aos outros mecânicos afirmar. Ainda por cima a filosofia não tem um conteúdo educacional, aliás não é via ensino, logo a sua competência pode ser apreendida como um bom carpinteiro filosofa.

14. Por último peço ajuda a todos os pais, e ao estatuto que o senso comum lhes confere, como se nunca tivessem sido algo antes (crianças, adolescentes, filhos), pois eles têm sempre algo a ensinar, eles não têm uma noção normal de futuro, por isso aconselham sabiamente apoiando-se na experiência, ou seja uns verdadeiros cientistas inatos a posteriori :)



[i] Faço esta nota para não ferir as enumeradas ciências sociais e ao mesmo tempo não tomar o partido divino, uma vez que a noção de culpa lhe corresponde.

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